quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Te amo do tamanho da girafa
Dia desses estava conversando com uma amiga pelo telefone, quando, de repente ela disse: “TE AMO DO TAMANHO DA GIRAFA”. Fiquei surpresa com a frase, mas não com o afeto que continha nela, pois ao longo dos anos de nossa amizade, sempre tivemos a cumplicidade de expressar nossos sentimentos uma à outra. Minha surpresa tinha relação com o QUE TAL FRASE REALMENTE SIGNIFICAVA “(....amor do tamanho de uma girafa? O que seria?).
Em seguida, minha amiga explicou que durante uma de suas aulas (ela é professora), foi exatamente esta frase que ouviu de uma de suas alunas (com idade entre 4 e 5 anos). Contou que durante uma de suas explicações, a garotinha olhou-a bem nos olhos e anunciou: “PRÔ, EU TE AMO DO TAMANHO DA GIRAFA!” e voltou aos seus afazeres, sem mais nada dizer. Sem que a professora pudesse aprofundar-se no tema.
Tal situação invadiu os meus pensamentos, passei dias refletindo: “o que realmente está contido nesta frase?”. Nós adultos temos a incrível necessidade de questionar tudo, de ampliar tudo, de querer entender tudo... Mas...QUANTO DE AMOR SIGNIFICA: TE AMO DO TAMANHO DA GIRAFA. Será que NÓS ...adultos...somos capazes de quantificar tal expressão? E se formos.... será que realmente somos capazes de entender seu real significado?
Sabemos que as crianças durante a primeira infância raciocinam através do PENSAMENTO CONCRETO e são incapazes de abstrair. É só com o seu desenvolvimento que sua forma de pensar também se transforma. Mas, se por um lado, quando criança ela não entende o abstrato, é com ela também que muitos de nós aprendemos nossas maiores e mais importantes lições, pois a criança é capaz de sentir e expressar-se sem culpa, vergonha e restrições; a criança é capaz de avaliar, comparar e EXPRESSAR seus pensamentos de uma forma invejavelmente libertadora.
Impossível é então, deixar de perguntar: “QUANTO É AMAR DO TAMANHO DA GIRAFA?” Amar muito? Amar de forma grandiosa? È amar o mais alto que a vista seja capaz de enxergar? Em quê pensava esta criança ao expressar-se assim? Nunca saberemos a verdade (se é que é realmente importante conhecê-la), só teremos a certeza de que a professora dela mereceu a confissão.
E nós? “ADULTOS?” O que amamos do tamanho da girafa?
Ou ainda: Quando nos perdemos desta pureza de sentimentos? Quando deixamos de nos expressar? Quando começamos a mentir? A omitir... Coisas, pensamentos e sentimentos? Quando iniciamos esta loucura que vemos hoje? Pais que matam e mutilam filhos; Filhos que são arremessados de janelas de casas ou de carros; netos que maltratam seus avós; filhos que – por ciúmes, doença ou ganância, cometem crimes bárbaros contra seus pais?
Quando deixamos de amar alguém “DO TAMANHO DA GIRAFA?” e passamos a amar outras coisas? O QUE NÓS AMAMOS DO TAMANHO DA GIRAFA? Poder? Prestígio? Dinheiro? “Status?”,PosiçãoSocial?
Quando deixamos de amar? Quando NOS DEIXAMOS? E nos trocamos. ...nos trocamos pelo quê?
Será que TROCAMOS O SER PELO TER? O “NÓS” PELO “EU”?
A sensação que possivelmente teremos – ao observarmos uma criança – é que a vida é bem mais simples do que “NÓS ADULTOS” planejamos e fazemos dela. A vida é COMO DECIDIMOS QUE ELA SEJA, em outras palavras, COMO ESCOLHEMOS VIVÊ-LA.
Esta criança sábia utilizou-se certamente do maior animal que conhecia, para falar do tamanho do seu amor pela professora. Não precisou de títulos para nos ensinar o óbvio: QUE O AMOR É PARA SER EXPRESSO, COMPARTILHADO, SENTIDO... CONFESSADO!
Esta criança foi SÁBIA porque não teve pudores, pois... AMA E DIZ...e certamente DISSE NO INSTANTE EM QUE SENTIU....pois não ESPEROU terminar o ano para dizê-lo, não ESPEROU terminar o dia para confessá-lo, não ESPEROU sentir-se AMADA para revelar.....apenas disse no instante em que sentiu! Por isso, sua sabedoria está além de títulos, “simplesmente” porque SOUBE MANIFESTAR O SEU AMOR A ALGUÉM... ”simplesmente” porque foi honesta com seus sentimentos, generosa com o próximo.
Os consultórios de psicologia estão repletos de pessoas cuja queixa faz relação ao AMOR e a carência em encontrá-lo. AMOR não somente na forma “homem x mulher” e suas variáveis, mas o AMOR entre pais e filhos, filhos e pais; amor entre os amigos; amor pelo que se Faz, Acredita, por uma Causa, uma Crença... um Valor! Ao invés disso, observamos a competição, a correria, a acomodação, o “deixar para amanhã”, o individualismo, a “falação desenfreada e desconexa”, a argumentação dos próprios valores sem que haja empatia pelo outro.
“AMAR DO TAMANHO DA GIRAFA”, deveria ser um PROJETO DE VIDA, uma FILOSOFIA... UM NOVO CONCEITO DE MILÊNIO, porém, ao invés disso, intelectualizamos, criamos teorias....quando talvez o mais sensato fosse apenas dizer: “EU TE AMO” - “VOCÊ É REALMENTE MUITO IMPORTANTE NA MINHA VIDA!”. Quem sabe deveríamos dizer mais vezes e a mais pessoas: EU TE AMO! AMAR, AMAR, AMAR E EXPRESSAR O AMOR, sem que necessariamente espere-se algo em troca!
John Lennon já dizia: “só precisamos de amor!”
A idéia aqui, não é “intelectualizar a atitude da criança”, mas simplesmente... IMITÁ-LA em nossas vidas e com àqueles que AMAMOS para que, dessa forma, cada um deles saiba da importância que possui em nossa existência, para que cada um deles saiba o verdadeiro lugar que ocupam em nossos corações.
Sábia criança... Sábias palavras! É a única conclusão que precisamos fazer.
E você?
Quer dizer “EU TE AMO DO TAMANHO DA GIRAFA para alguém hoje? EXPERIMENTE!
Quem sabe VOCÊ será o MAIOR BENEFICIADO COM TAL ATITUDE
Se você for capaz de compreender a grandeza dessa frase, será merecedor de ouvir: EU TE AMO DO TAMANHO DA GIRAFA
Paz ao seu coração!
QUESTÕES PARA REFLEXÃO:
1-O que a autora tinha em mente ao dividir esse texto com outras pessoas?
2-Você encontrou algo no texto que parece com sua forma de pensar ou refletiu somente agora sobre isso?
3Você mudaria alguma coisa em seus relacionamentos para obter mais qualidade de comunicação e bem estar na vida?
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
A FLOR E O ARROZ
Um sujeito estava colocando flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês colocando um prato de arroz na lápide ao lado.
Ele se vira para o chinês e pergunta:
- Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o defunto virá comer o arroz?
E o chinês responde:
- Sim, quando o seu vier cheirar as flores.
Moral da História:
"Respeitar as opções do outro, em qualquer aspecto, é uma das maiores virtudes que um ser humano pode ter. As pessoas são diferentes, agem diferente e pensam diferente. Portanto, nunca julgue. Apenas tente compreender."
sábado, 27 de setembro de 2008
Bichos
Uma velha senhora chamada Renata morava sozinha na mata, num pequeno bangalô. Um dia, enquanto dormia, recebeu a visita de um estranho cobrador. Era um homem de cabelo sarará, que empurrou a porta e, logo que entrou, o mais forte que podia ele gritou: "sua dorminhoca, que só gosta de fofoca, pague logo o que me deve e não me venha avacalhar, oferecendo bóia ou papo barato, que não vou suportar". A velha senhora pulou da cama com o cabelo ainda emaranhado, calçou o sapato e, tremulando sem parar, uma célebre modinha começou a cantar. Os bichos que estavam na mata conheciam aquela melodia e logo foram acudir a velha senhora que morava sozinha.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
A vírgula
A vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere.
Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.
Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.
Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.
Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.
A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.
Uma vírgula muda tudo.
terça-feira, 3 de junho de 2008
A pedra
O distraído, nela tropeçou,
o bruto a usou como projétil,
o empreendedor, usando-a construiu,
o campônio, cansado da lida,
dela fez assento.
Para os meninos foi brinquedo,
Drummond a poetizou,
Davi matou Golias...
Por fim;
o artista concebeu a mais bela escultura.
Em todos os casos,
a diferença não era a pedra.
Mas o homem.
o bruto a usou como projétil,
o empreendedor, usando-a construiu,
o campônio, cansado da lida,
dela fez assento.
Para os meninos foi brinquedo,
Drummond a poetizou,
Davi matou Golias...
Por fim;
o artista concebeu a mais bela escultura.
Em todos os casos,
a diferença não era a pedra.
Mas o homem.
Autor: Antônio Pereira (Apon)
segunda-feira, 5 de maio de 2008
A VOLTA DO VELHO PROFESSOR
Em pleno século XX, um grande professor do século passado voltou à Terra e, chegando à sua cidade, ficou abismado com o que viu: as casas altíssimas, as ruas pretas, passando umas sobre as outras, com uma infinidade de máquinas andando em alta velocidade; o povo falava muitas palavras que o professor não conhecia (poluição, avião, metrô, televisão...); os cabelos de umas pessoas pareciam com os do tempo das cavernas e as roupas deixavam o professor ruborizado.
Muito surpreso e preocupado com a mudança, o professor visitou a cidade inteira e cada vez compreendia menos o que estava acontecendo. Na igreja, levou susto com o padre que não mais rezava em latim, com o órgão mudo e um grupo de cabeludos tocando uma música estranha. Visitando algumas famílias, espantou-se com o ritual depois do jantar: todos se reuniam durante horas para adorar um aparelho que mostrava imagens e emitia sons. O professor ficou impressionado com a capacidade de concentração de todos: ninguém falava uma palavra diante do aparelho.
Cada vez mais desanimado, foi visitar a escola – e, finalmente, sentiu um grande alívio, reencontrando a paz. Ali, tudo continuava da mesma forma como ele havia deixado: as carteiras uma atrás da outra, o professor falando, falando... e os alunos escutando, escutando, escutando...
Muito surpreso e preocupado com a mudança, o professor visitou a cidade inteira e cada vez compreendia menos o que estava acontecendo. Na igreja, levou susto com o padre que não mais rezava em latim, com o órgão mudo e um grupo de cabeludos tocando uma música estranha. Visitando algumas famílias, espantou-se com o ritual depois do jantar: todos se reuniam durante horas para adorar um aparelho que mostrava imagens e emitia sons. O professor ficou impressionado com a capacidade de concentração de todos: ninguém falava uma palavra diante do aparelho.
Cada vez mais desanimado, foi visitar a escola – e, finalmente, sentiu um grande alívio, reencontrando a paz. Ali, tudo continuava da mesma forma como ele havia deixado: as carteiras uma atrás da outra, o professor falando, falando... e os alunos escutando, escutando, escutando...
A MULETA DA VOVÓ
Era uma professora recém formada em magistério de 2° grau. Enfrentava, nesse momento, a pesada responsabilidade de alfabetizar uma classe de 34 crianças.
Eu estava sentado lá no fundo da sala. Já tinha perdido a devida autorização para observar a aula. Intuito: sentir mais de perto as práticas pedagógicas na área da alfabetização. Na época, 1977, eu havia sido convidado para organizar uma cartilha, coisa que, felizmente, nunca foi concretizada.
Sobre a mesa do professor um roteiro de aula, que, de onde eu estava, não dava para ver tamanho nem formato. Bom saber que nestes tempos ainda há professores que planejam e roteirizam as suas ações, contrapondo-se à famigerada improvisação.
Diz à classe:
- Copiem as duas palavrinhas que vou escrever na lousa.
E escreve, uma embaixo da outra, lendo em voz alta:
- Mata-borrão, tinteiro.
As crianças, de “esferográfica” em punho, começam a copiar, sempre lembrando que não deveriam se esquecer de cortar o tê.
Ao passeio da professora pelas fileiras, checando as cruzadinhas dos tês, vejo-me com um sentimento de espanto e estranheza frente às duas palavras selecionadas para a lição: mata-borrão, tinteiro. De que diabo de lugar ela tinha retirado tais palavras?
Arrisco, bem baixinho, uma pergunta ao garoto sentado na fileira ao lado:
- Você sabe o que é mata-borrão?
- Sei lá. Acho que é bandido. Assassino.
Meu pensamento corre longe no restante da aula. Volto aos meus tempos de escola primária na década de 50. Caneta de pena, tinteiro e mata-borrão faziam parte do material que eu levava à escola. Molhávamos a pena no tinteiro que ficava num recipiente colocado no topo da carteira, escrevíamos no caderno de caligrafia e passávamos o mata-borrão por cima para sugar o excesso de tinta, não borrar a folha.
Bate o sinal. Eu acordo e corro lá na frente para saciar a minha curiosidade.
- De onde você tirou aquelas duas palavras para os alunos copiarem?
- Quais duas?
- Mata-borrão e tinteiro.
- Ah, sim. Deste meu roteiro aqui – uma preciosidade que herdei da minha avó. Ela também foi professora. A melhor alfabetizadora da região. Sigo direitinho as suas instruções.
E mostrou-me um caderno meio roto, desgastado pelo tempo e pelo uso. Escrito naquelas antigas letras de cartório. Cheirava a cravo-de-defunto. Bisbilhotei a lição do dia, onde encontrei, à página 17, as seguintes instruções: “Na 6a aula, vós deveis fornecer um exercício de cópia com palavras ‘mata-borrão’ e ‘tinteiro’”.
Nas mãos da professora a muleta da vovó. Na cabeça dos alunos mata-borrão = assassino.
Referência
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Magistério e mediocridade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
Eu estava sentado lá no fundo da sala. Já tinha perdido a devida autorização para observar a aula. Intuito: sentir mais de perto as práticas pedagógicas na área da alfabetização. Na época, 1977, eu havia sido convidado para organizar uma cartilha, coisa que, felizmente, nunca foi concretizada.
Sobre a mesa do professor um roteiro de aula, que, de onde eu estava, não dava para ver tamanho nem formato. Bom saber que nestes tempos ainda há professores que planejam e roteirizam as suas ações, contrapondo-se à famigerada improvisação.
Diz à classe:
- Copiem as duas palavrinhas que vou escrever na lousa.
E escreve, uma embaixo da outra, lendo em voz alta:
- Mata-borrão, tinteiro.
As crianças, de “esferográfica” em punho, começam a copiar, sempre lembrando que não deveriam se esquecer de cortar o tê.
Ao passeio da professora pelas fileiras, checando as cruzadinhas dos tês, vejo-me com um sentimento de espanto e estranheza frente às duas palavras selecionadas para a lição: mata-borrão, tinteiro. De que diabo de lugar ela tinha retirado tais palavras?
Arrisco, bem baixinho, uma pergunta ao garoto sentado na fileira ao lado:
- Você sabe o que é mata-borrão?
- Sei lá. Acho que é bandido. Assassino.
Meu pensamento corre longe no restante da aula. Volto aos meus tempos de escola primária na década de 50. Caneta de pena, tinteiro e mata-borrão faziam parte do material que eu levava à escola. Molhávamos a pena no tinteiro que ficava num recipiente colocado no topo da carteira, escrevíamos no caderno de caligrafia e passávamos o mata-borrão por cima para sugar o excesso de tinta, não borrar a folha.
Bate o sinal. Eu acordo e corro lá na frente para saciar a minha curiosidade.
- De onde você tirou aquelas duas palavras para os alunos copiarem?
- Quais duas?
- Mata-borrão e tinteiro.
- Ah, sim. Deste meu roteiro aqui – uma preciosidade que herdei da minha avó. Ela também foi professora. A melhor alfabetizadora da região. Sigo direitinho as suas instruções.
E mostrou-me um caderno meio roto, desgastado pelo tempo e pelo uso. Escrito naquelas antigas letras de cartório. Cheirava a cravo-de-defunto. Bisbilhotei a lição do dia, onde encontrei, à página 17, as seguintes instruções: “Na 6a aula, vós deveis fornecer um exercício de cópia com palavras ‘mata-borrão’ e ‘tinteiro’”.
Nas mãos da professora a muleta da vovó. Na cabeça dos alunos mata-borrão = assassino.
Referência
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Magistério e mediocridade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
RESULTADOS
Resultados exigem esforço, paciência e constância.
Suspeito de promessas miraculosas e soluções instantâneas;
Duvido de fórmulas simples para conquista da felicidade.
Fraqueza, fadiga e ferrugem custam a ceder depois que se instalam no corpo, na mente e no espírito.
Somente força, fôlego e flexibilidade podem produzir mudança.
Otimismo só é útil onde existe ação planejada.
Pensamento positivo só funciona à custa de muito trabalho.
Sem objetivos e prazos definidos, esperança é pura ilusão.
Acredito em fato, não em intenções.
Acredito em atitudes, não em discursos.
Acredito em posturas éticas, não em regras de moral.
Acredito em fazer acontecer, não em esperar que aconteça.
Acredito em criatividade, não em obstáculos.
O que importa são as tentativas e não os acertos.
As vezes que a gente se levanta contam muito mais do que as que a gente cai.
O prazer de continuar buscando é infinitamente maior do que o sucesso de alcançar.
Toda transformação começa sempre caótica e desconfortável.
Os caminhos conhecidos são seguros e fáceis,
Mas só conduzem aos lugares onde já estamos e não desejamos ficar.
O caminho do novo é cheio de riscos, surpresas e cansaço,
mas sempre premiam os que escolhe com chance descobrirem
e experimentarem a VIDA que imaginaram VIVER.
Geraldo Eustáquio de Souza
Suspeito de promessas miraculosas e soluções instantâneas;
Duvido de fórmulas simples para conquista da felicidade.
Fraqueza, fadiga e ferrugem custam a ceder depois que se instalam no corpo, na mente e no espírito.
Somente força, fôlego e flexibilidade podem produzir mudança.
Otimismo só é útil onde existe ação planejada.
Pensamento positivo só funciona à custa de muito trabalho.
Sem objetivos e prazos definidos, esperança é pura ilusão.
Acredito em fato, não em intenções.
Acredito em atitudes, não em discursos.
Acredito em posturas éticas, não em regras de moral.
Acredito em fazer acontecer, não em esperar que aconteça.
Acredito em criatividade, não em obstáculos.
O que importa são as tentativas e não os acertos.
As vezes que a gente se levanta contam muito mais do que as que a gente cai.
O prazer de continuar buscando é infinitamente maior do que o sucesso de alcançar.
Toda transformação começa sempre caótica e desconfortável.
Os caminhos conhecidos são seguros e fáceis,
Mas só conduzem aos lugares onde já estamos e não desejamos ficar.
O caminho do novo é cheio de riscos, surpresas e cansaço,
mas sempre premiam os que escolhe com chance descobrirem
e experimentarem a VIDA que imaginaram VIVER.
Geraldo Eustáquio de Souza
É PRECISO SENTIR A MUDANÇA LÁ DENTRO
Mudar é um ato de coragem.
É aceitação plena e consciente de desafio.
É trabalho árduo, para hoje!
É trabalho duro, para agora!
E os frutos só virão amanhã, quem sabe, tão distante...
Mas quando temos a certeza de estarmos no rumo certo, a caminhada é longa.
Muitos ficarão à margem.
Outros vão retirar-se da estrada. É assim mesmo!
Contudo, os que ficarem, chegarão. Disso eu tenho certeza!
Olhe bem a seu lado. Estão com você seus colegas de trabalho.
Eles exercem o mesmo papel que você dentro desta organização.
Eles também têm problemas e dificuldades como você. E têm dúvidas sobre a mudança.
Você poderá mostrar-lhes como sente e pensa a respeito das mudanças na organização e nas pessoas.
Não feche a janela em que você está debruçado.
Convide seu colega para estar ao seu lado, para que vocês possam ter a mesma perspectiva.
É aceitação plena e consciente de desafio.
É trabalho árduo, para hoje!
É trabalho duro, para agora!
E os frutos só virão amanhã, quem sabe, tão distante...
Mas quando temos a certeza de estarmos no rumo certo, a caminhada é longa.
Muitos ficarão à margem.
Outros vão retirar-se da estrada. É assim mesmo!
Contudo, os que ficarem, chegarão. Disso eu tenho certeza!
Olhe bem a seu lado. Estão com você seus colegas de trabalho.
Eles exercem o mesmo papel que você dentro desta organização.
Eles também têm problemas e dificuldades como você. E têm dúvidas sobre a mudança.
Você poderá mostrar-lhes como sente e pensa a respeito das mudanças na organização e nas pessoas.
Não feche a janela em que você está debruçado.
Convide seu colega para estar ao seu lado, para que vocês possam ter a mesma perspectiva.
Tenho certeza que, se assim procedemos, dentro de algum tempo estaremos convencidos de que não é tão difícil mudar.
(Adaptação do poema de Antonio Ferreira de Andrade)
sexta-feira, 25 de abril de 2008
APRENDER
O mundo parece que só não progride mais rapidamente porque há, em muitas criaturas, um invisível desencanto de aprender. De aprender mais continuamente, de aprender sempre.
Em geral, atingido um limite de conhecimento indispensável a certas garantias, o indivíduo instala-se nele, e deixa correr o tempo, sem se preocupar com a renovação constante das coisas. São esses, na verdade, os que se surpreendem quando, certo dia, encontram circunstâncias diversas a atender. Pensaram que tinham formado um mundo inalterável e lhes bastava ir até o fim nessa cômoda rotina.
Mas, em alguns casos, não possuem, sequer, uma limpidez de vistas suficiente para aceitarem a certeza dessa renovação. Obstinam-se em pensar quem têm a verdade consigo. E não somente em pensar, mas em dizer.
Ora, quem é dono de uma verdade atingiu, decerto, um grau de superioridade inexcedível. Quem possui uma verdade não se vai agora modificar em atenção a nada e a ninguém. É todo-poderoso e perfeito.
Em geral, atingido um limite de conhecimento indispensável a certas garantias, o indivíduo instala-se nele, e deixa correr o tempo, sem se preocupar com a renovação constante das coisas. São esses, na verdade, os que se surpreendem quando, certo dia, encontram circunstâncias diversas a atender. Pensaram que tinham formado um mundo inalterável e lhes bastava ir até o fim nessa cômoda rotina.
Mas, em alguns casos, não possuem, sequer, uma limpidez de vistas suficiente para aceitarem a certeza dessa renovação. Obstinam-se em pensar quem têm a verdade consigo. E não somente em pensar, mas em dizer.
Ora, quem é dono de uma verdade atingiu, decerto, um grau de superioridade inexcedível. Quem possui uma verdade não se vai agora modificar em atenção a nada e a ninguém. É todo-poderoso e perfeito.
Assim, os rotineiros pacíficos, viciados na imobilidade das idéias, e os rotineiros pretensiosos, impregnados da convicção de uma sabedoria insuperável, constituem duas fileiras imensas, entre as quais passam a custo, e com uma impressionante coragem, os que se acostumaram a pôr sobre todas as coisas uma claridade sem enganos, e conquistaram o gosto de atingir cada dia um ponto mais alto para o seu destino.
Esse gosto provém da humildade persistente de aprender.
Esse gosto provém da humildade persistente de aprender.
A cada instante há na vida um novo conhecimento a encontrar, uma nova lição despertando, uma situação nova, que se deve resolver.
Entre os inertes e os que não dão por isso ou não podem assumir nenhuma atitude, e os presumidos que, imperturbavelmente, deixam cair o seu orgulho e o seu tédio sobre os mais contraditórios acontecimentos, aqueles que, afinal, constroem alguma coisa no mundo organizam suas atividades para vencer a experiência que se lhes apresenta.
Vencem-na pela inteligência com que a aceitam, pelos poderes com que a compreendem, pela interpretação e o estímulo que a seu respeito são capazes de formular.
Tudo isso é aprender. E aprender é sempre adquirir uma força para outras vitórias na sucessão interminável da vida.
Os adultos aconselham freqüentemente às crianças a vantagem de aprender, vantagem que tão pouco conhecem e que assim mesmo dificilmente seriam capazes de seguir.
Pode ser que um dia cheguem a mudar muito, e dêem tais. conselhos a si mesmos.
Daí por diante, o mundo começará a ficar melhor.
Rio de Janeiro, Diário de Notícias. 1O de dezembro de 1932.
REFERÊNCIA
REFERÊNCIA
AZEVEDO, Leodegário Amarante de. Cecília Meireles, Crônicas da Educação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
PARA REFLETIR
1. O título do texto define bem seu tema? Por quê? O que se deveria acrescentar/
2. A autora indica dois tipos de pessoa que resitem ao aprendizado permanente. Quais são?
3. O que, segundo texto, caracteriza as pessoas dispostas/ disponíveis a aprender sempre? Voc concorda com a opinião expressa pela autora? Por quê?
PARA REFLETIR
1. O título do texto define bem seu tema? Por quê? O que se deveria acrescentar/
2. A autora indica dois tipos de pessoa que resitem ao aprendizado permanente. Quais são?
3. O que, segundo texto, caracteriza as pessoas dispostas/ disponíveis a aprender sempre? Voc concorda com a opinião expressa pela autora? Por quê?
terça-feira, 22 de abril de 2008
O BARQUEIRO
Em um grande rio, de difícil travessia, havia um barqueiro que atravessava as pessoas de um lado para o outro. Em uma das viagens, iam um advogado e uma professora.
Como que gosta de falar muito, o advogado perguntou ao barqueiro:
- Companheiro, você entende de leis?
- Não – respondeu o barqueiro.
E o advogado compadecido, disse:
- É pena, você perdeu metade da vida!
A professora, muito social, entra na conversa:
- Seu barqueiro, você sabe ler e escrever?
- Também não – responde o remador.
- Que pena! Condói-se a mestra – você perdeu a metade da vida!
Nisso chega uma onde bastante forte e vira o barco.
O canoeiro preocupado, pergunta:
- Vocês sabem nadar?
- Não! – respondem eles rapidamente.
- Então é uma pena – concluiu o barqueiro – Vocês perderam toda a vida!
Como que gosta de falar muito, o advogado perguntou ao barqueiro:
- Companheiro, você entende de leis?
- Não – respondeu o barqueiro.
E o advogado compadecido, disse:
- É pena, você perdeu metade da vida!
A professora, muito social, entra na conversa:
- Seu barqueiro, você sabe ler e escrever?
- Também não – responde o remador.
- Que pena! Condói-se a mestra – você perdeu a metade da vida!
Nisso chega uma onde bastante forte e vira o barco.
O canoeiro preocupado, pergunta:
- Vocês sabem nadar?
- Não! – respondem eles rapidamente.
- Então é uma pena – concluiu o barqueiro – Vocês perderam toda a vida!
sábado, 5 de abril de 2008
Anacleto
Anacleto era um sujeito.
Ele sabia de quase tudo...
Fazia quase tudo certo.
Ninguém fazia contas tão bem quanto Anacleto.
Ele não se atrapalhava com os números, nunca errava as somas.
Anacleto era o melhor aluno da escola, o corredor mais rápido da rua e também um craque de bola.
Anacleto fazia piruetas na bicicleta, nadava como um peixe... E era radical no skate.
Anacleto era um verdadeiro atleta.
Anacleto anda sempre arrumado, camisa limpinha, sapato engraxado, cabelo penteado, nariz sem meleca.
A Mônica, a Bia e a Teça, ele já tinha namorado.
Anacleto falava bonito.
Conhecia palavras como EXATAMENTE e IMPRESSIONANTE.
Era realmente um sujeito brilhante.
Anacleto sabia o triplo de cinco, sabia o que provocava relâmpagos e de onde vêm os bebês.
Sabia até o que é ORNITORRINCO.
Mas, apesar de tão esperto, era um sujeito quase completo.
Sabe por quê?
Anacleto não sabia de tudo não: ele não sabia fazer bolinha de sabão...
REFERÊNCIA
Ele sabia de quase tudo...
Fazia quase tudo certo.
Ninguém fazia contas tão bem quanto Anacleto.
Ele não se atrapalhava com os números, nunca errava as somas.
Anacleto era o melhor aluno da escola, o corredor mais rápido da rua e também um craque de bola.
Anacleto fazia piruetas na bicicleta, nadava como um peixe... E era radical no skate.
Anacleto era um verdadeiro atleta.
Anacleto anda sempre arrumado, camisa limpinha, sapato engraxado, cabelo penteado, nariz sem meleca.
A Mônica, a Bia e a Teça, ele já tinha namorado.
Anacleto falava bonito.
Conhecia palavras como EXATAMENTE e IMPRESSIONANTE.
Era realmente um sujeito brilhante.
Anacleto sabia o triplo de cinco, sabia o que provocava relâmpagos e de onde vêm os bebês.
Sabia até o que é ORNITORRINCO.
Mas, apesar de tão esperto, era um sujeito quase completo.
Sabe por quê?
Anacleto não sabia de tudo não: ele não sabia fazer bolinha de sabão...
REFERÊNCIA
CISALPINO, Murilo; TEIXEIRA, Zeflavio. Anacleto, um sujeito quase completo.
sexta-feira, 21 de março de 2008
A serpente e o vaga - lume
Conta-se que uma serpente começou a perseguir um vaga-lume.
Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada.
No terceiro dia, já sem forças, o vaga-lume parou e disse à cobra:
Posso lhe fazer três perguntas?
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Eu te fiz algum mal?
- Não.
- Então, por que você quer acabar comigo?
E a serpente responde:- Porque não suporto ver você brilhar...Pense nisso!
Infelizmente, a qualquer momento, uma cobra pode cruzar nosso caminho...
Esteja sempre alerta, pois o que não faltam são as serpentes querendo nos atrapalhar!
Mas, não tenha medo!
Não fuja!
Brilhe sempre, com muita intensidade!
Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada.
No terceiro dia, já sem forças, o vaga-lume parou e disse à cobra:
Posso lhe fazer três perguntas?
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Eu te fiz algum mal?
- Não.
- Então, por que você quer acabar comigo?
E a serpente responde:- Porque não suporto ver você brilhar...Pense nisso!
Infelizmente, a qualquer momento, uma cobra pode cruzar nosso caminho...
Esteja sempre alerta, pois o que não faltam são as serpentes querendo nos atrapalhar!
Mas, não tenha medo!
Não fuja!
Brilhe sempre, com muita intensidade!
sexta-feira, 14 de março de 2008
Quando a escola é de vidro
Eu ia para a escola todos os dias de manhã e quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro.
É, no vidro!
Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não! O vidro dependia da classe em que a gente estudava.
Se você estava no primeiro ano, ganhava um vidro de um tamanho. Se você fosse do segundo ano, seu vidro era um pouquinho maior. E assim, os vidros iam crescendo à medida que você ia passando de ano.
Se não passasse de ano, era um horror. Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado.
Coubesse ou não coubesse.
Aliás, nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros. E para falar a verdade, ninguém cabia direito.
Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável.
A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava, e a gente nem podia respirar direito...
A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de Educação Física. Mas aí já estávamos desesperados de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros...
Referência
ROCHA, Ruth
É, no vidro!
Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não! O vidro dependia da classe em que a gente estudava.
Se você estava no primeiro ano, ganhava um vidro de um tamanho. Se você fosse do segundo ano, seu vidro era um pouquinho maior. E assim, os vidros iam crescendo à medida que você ia passando de ano.
Se não passasse de ano, era um horror. Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado.
Coubesse ou não coubesse.
Aliás, nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros. E para falar a verdade, ninguém cabia direito.
Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável.
A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava, e a gente nem podia respirar direito...
A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de Educação Física. Mas aí já estávamos desesperados de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros...
Referência
ROCHA, Ruth
quinta-feira, 13 de março de 2008
Tanchemos boas estacas
O verbo tanchar já caiu da moda. Quase só se usa no antigo provérbio: “Quem muitas estacas tancha, alguma lhe há de tachar”. Mas deixemos passar o têrmo arcaico. Quem viaja nos grandes rios ou em certos mares nota que o piloto está sempre a observar as balizas que marcam o canal. Sem esses balizas é inevitável o encalhe ou abalroamento da embarcação. Essas balizas são, muitas vezes, simples estacas tanchadas ao longo do canal. O barco da nossa vida navega em rios tortuosos. Aqui, um banco de areia, ali um escolho. Ah! Se não estiver bem balizado o canal! “Mas quem nos tanchará as estacas-baliza?” – Nós mesmos. O moço já sabe que aquela leitura lhe foi prejudicial – tanche ali uma estaca. Aquela taberna causou tanto mal à sua vida passada – tanche ali uma estaca. A mesa do pano verde quanta lágrima já fez derramar a sua família! Tanche ali uma estaca. Já sabe que aquele é um mau inimigo, tanche ali uma estaca.Aí está um roteiro traçado pela experiência pessoal.(p.10)
REFERÊNCIA
LUSTOSA, Antônio de Almeida. Respingando. 2˚ Volume. Imprensa Universitária do Ceará: Fortaleza, s/d.
Carbono para planejamento
- Alô, é da casa de D. Mariazinha?
- Sim, com quem deseja falar?
- Com a própria. Aqui é Carmem, lá da mesma escola onde ela trabalha.
- Pode falar Carmen, aqui quem fala é Mariazinha.
- Mas que ótimo te pegar em casa. É sobre o maldito planejamento do ensino. Eu nem sei por onde começar e o meu diretor quer essa coisa pra amanhã cedo.
- Olha: peque o mesmo do ano passado. Muda uma ou duas sentenças e entregue. Todo mundo faz isso...
- Só que eu comecei a lecionar este ano, sabe? E a outra professora que eu substituí nem tinha plano. Dá pra você me ajudar?
- Eu aqui em casa só tenho a minha cópia carbono. Acho que ela não dá xérox – está meio apagada...
- Cópia carbono?
- Lá na escola quem faz o plano é a D. Chiquita. Ela datilografa as cópias com carbono para facilitar. Imagine se eu vou perder tempo com isso. O diretor nem verifica: ele pega, dá uma olhada por cima e tranca na gaveta.
- É mesmo é? E você tem por acaso o telefone da Chiquita? Vou entrar nessa também!
- Deixa eu ver... aqui está: 23-8166. Só que ela cobra, viu?
- Cobra? Quanto?
- Serviço profissional, minha filha! Ou você acha que a colega ia trabalhar de graça! Já basta a exploração do governo. E com essa inflação, não sei o preço atual do plano. Mas vale, viu? Vem com capa e bem datilografado. Máquina elétrica e tudo... nem precisa revisar...
- Obrigado pela recomendação. Vou ligar agora mesmo pra casa dela pra encomendar. Um abração, tá!
- Só mais um conselho antes de desligar: guarde uma cópia com você. Assim no ano que vem você não precisa tirar dinheiro do bolso de novo. É isso aí, tchau!
Referência
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Magistério e mediocridade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001. pp. 35 e 36.
- Sim, com quem deseja falar?
- Com a própria. Aqui é Carmem, lá da mesma escola onde ela trabalha.
- Pode falar Carmen, aqui quem fala é Mariazinha.
- Mas que ótimo te pegar em casa. É sobre o maldito planejamento do ensino. Eu nem sei por onde começar e o meu diretor quer essa coisa pra amanhã cedo.
- Olha: peque o mesmo do ano passado. Muda uma ou duas sentenças e entregue. Todo mundo faz isso...
- Só que eu comecei a lecionar este ano, sabe? E a outra professora que eu substituí nem tinha plano. Dá pra você me ajudar?
- Eu aqui em casa só tenho a minha cópia carbono. Acho que ela não dá xérox – está meio apagada...
- Cópia carbono?
- Lá na escola quem faz o plano é a D. Chiquita. Ela datilografa as cópias com carbono para facilitar. Imagine se eu vou perder tempo com isso. O diretor nem verifica: ele pega, dá uma olhada por cima e tranca na gaveta.
- É mesmo é? E você tem por acaso o telefone da Chiquita? Vou entrar nessa também!
- Deixa eu ver... aqui está: 23-8166. Só que ela cobra, viu?
- Cobra? Quanto?
- Serviço profissional, minha filha! Ou você acha que a colega ia trabalhar de graça! Já basta a exploração do governo. E com essa inflação, não sei o preço atual do plano. Mas vale, viu? Vem com capa e bem datilografado. Máquina elétrica e tudo... nem precisa revisar...
- Obrigado pela recomendação. Vou ligar agora mesmo pra casa dela pra encomendar. Um abração, tá!
- Só mais um conselho antes de desligar: guarde uma cópia com você. Assim no ano que vem você não precisa tirar dinheiro do bolso de novo. É isso aí, tchau!
Referência
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Magistério e mediocridade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001. pp. 35 e 36.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Marca de giz
Quando eu estava no meio do curso colegial, meu professor de inglês fez uma pequena marca de giz no quadro negro. Um ponto exatamente como esse que está aí em baixo.
Ele perguntou à turma o que era aquilo. Passados alguns segundos, alguém disse:
- É uma marca de giz no quadro negro.
O resto da classe suspirou de alívio, porque o óbvio foi dito e ninguém tinha mais nada a dizer.
- Vocês me surpreenderam – o professor falou, olhando para o grupo.
- Fiz o mesmo exercício ontem, com uma turma do jardim da infância, e eles pensaram em umas cinqüenta coisas diferentes: o olho de uma coruja, uma ponta de charuto, o topo de um poste telefônico, uma estrela, uma pedrinha, um inseto esmagado, um ovo podre e assim por diante. Eles realmente estavam com a imaginação a todo vapor.
- Nos dez anos que vão do jardim da infância ao colegial, nós tínhamos aprendido a encontrar a resposta certa, mas também havíamos perdido a capacidade de procurar outras respostas certas. Tínhamos aprendido a sermos específicos, mas havíamos perdido muito em capacidade imaginativa. Como bem observou o educador Neil Postman: quando as crianças vão para a escola, são pontos de interrogação; quando saem, são frases feitas.
REFERÊNCIA
CENTRO NORDESTINO DE EDUCAÇÃO/ANIMAÇÃO POPULAR. Almanaque de metodologia da educação popular. Recife: CEPE, s/d.
Ele perguntou à turma o que era aquilo. Passados alguns segundos, alguém disse:
- É uma marca de giz no quadro negro.
O resto da classe suspirou de alívio, porque o óbvio foi dito e ninguém tinha mais nada a dizer.
- Vocês me surpreenderam – o professor falou, olhando para o grupo.
- Fiz o mesmo exercício ontem, com uma turma do jardim da infância, e eles pensaram em umas cinqüenta coisas diferentes: o olho de uma coruja, uma ponta de charuto, o topo de um poste telefônico, uma estrela, uma pedrinha, um inseto esmagado, um ovo podre e assim por diante. Eles realmente estavam com a imaginação a todo vapor.
- Nos dez anos que vão do jardim da infância ao colegial, nós tínhamos aprendido a encontrar a resposta certa, mas também havíamos perdido a capacidade de procurar outras respostas certas. Tínhamos aprendido a sermos específicos, mas havíamos perdido muito em capacidade imaginativa. Como bem observou o educador Neil Postman: quando as crianças vão para a escola, são pontos de interrogação; quando saem, são frases feitas.
REFERÊNCIA
CENTRO NORDESTINO DE EDUCAÇÃO/ANIMAÇÃO POPULAR. Almanaque de metodologia da educação popular. Recife: CEPE, s/d.
O rio e o leão
Depois de uma grande enchente, o leão viu-se cercado por um rio e ficou sem saber como sair dali. Nadar não era de sua natureza, mas só lhe restavam duas opções: atravessar o rio ou morrer. O leão urrou, mergulhou na água, quase se afogou, mas não conseguiu atravessar, Exausto, deitou para descansar. Foi quando escutou o rio dizer:
- Jamais lute com o que não está presente.
Cautelosamente, o animal olhou em volta e perguntou:
- O que não está aqui?
- O seu inimigo não está aqui – respondeu o rio. – Assim como você é um leão, eu sou apenas um rio.
Ao ouvir isso, o leão, muito sereno, começou a estudar as características do rio. Logo identificou um certo ponto em que a correnteza empurrava para a margem e, entrando na água, conseguiu boiar até o outro lado.
REFERÊNCIA
PRATHER, Hugh. Não leve a vida tão a sério. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
- Jamais lute com o que não está presente.
Cautelosamente, o animal olhou em volta e perguntou:
- O que não está aqui?
- O seu inimigo não está aqui – respondeu o rio. – Assim como você é um leão, eu sou apenas um rio.
Ao ouvir isso, o leão, muito sereno, começou a estudar as características do rio. Logo identificou um certo ponto em que a correnteza empurrava para a margem e, entrando na água, conseguiu boiar até o outro lado.
REFERÊNCIA
PRATHER, Hugh. Não leve a vida tão a sério. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
Negação da experiência pedagógica: o muito pelo pouco
Nesta sociedade, onde tudo é mercado, o conhecimento também vira mercadoria. Nem vou falar de escola particular, pois quem a paga sente muito bem o peso das mensalidades, o custo da mercadoria...
Quero falar, isso sim, dos cursos de extensão ou de aperfeiçoamento, oferecidos aos professores na forma de reciclagem ou treinamento. A transformação de muitos desses cursos em verdadeiros rituais totêmicos merece ser refletida.
As chamadas “inovações pedagógicas”, enlatadas e vendidas por gurus de fala grossa, circulam pelos desertos do magistério conforme as estações da moda: neste semestre, esta proposta; no semestre que vem, aquela abordagem. Nesse veste-desveste de propostas, teorias, abordagens, inovações etc. etc., os professores se sentem eternamente como seres desnudos e desnucados.
A imagem do manequim de vitrina cabe bem aqui. Oco. Sem rosto, Parado, Pé de ferro, Que é enfeitado, trocado, quando chegam as novas mercadorias. Que é retirado de cena, quando não cumpre a sua função de venda.
Outra imagem que também cabe é aquela do espantalho. Recheado de palha. Feição assustadora. Preso a um caibro para ser movimentado de quando em vez. Que é talhado com roupas velhas no sentido de afugentar os pássaros curiosos. Que fica sempre de braços abertos, receptivo, tal o Cristo Redentor.
- Esqueçam tudo que estão fazendo e o que já fizeram em classe – diz o arauto da inovação. Agora o novo jeito de ensinar é este e somente este.
E toda a história profissional, vivida pelo professor ao longo do tempo, segue bueiro abaixo. “Puxa, só estou fazendo burrada em sala de aula!” – pensa inocentemente consigo mesmo, não relativizando nada.
O eterno substituir na esfera do magistério mais parece um edifício sem base, flutuando ao sabor dos ventos soprados pelos gurus e passível de ruir com um leve toque dos dedos.
Quem, sem consciência, nega a sua experiência, nega a sua condição de sujeito. A menos que o professor, por ser masoquista, já tenha se acostumado ao papel de manequim ou espantalho – um direito que lhe cabe, sem dúvida alguma. Cabe para si, mas talvez não caiba aos seus alunos...
Referência
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Magistério e mediocridade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
Quero falar, isso sim, dos cursos de extensão ou de aperfeiçoamento, oferecidos aos professores na forma de reciclagem ou treinamento. A transformação de muitos desses cursos em verdadeiros rituais totêmicos merece ser refletida.
As chamadas “inovações pedagógicas”, enlatadas e vendidas por gurus de fala grossa, circulam pelos desertos do magistério conforme as estações da moda: neste semestre, esta proposta; no semestre que vem, aquela abordagem. Nesse veste-desveste de propostas, teorias, abordagens, inovações etc. etc., os professores se sentem eternamente como seres desnudos e desnucados.
A imagem do manequim de vitrina cabe bem aqui. Oco. Sem rosto, Parado, Pé de ferro, Que é enfeitado, trocado, quando chegam as novas mercadorias. Que é retirado de cena, quando não cumpre a sua função de venda.
Outra imagem que também cabe é aquela do espantalho. Recheado de palha. Feição assustadora. Preso a um caibro para ser movimentado de quando em vez. Que é talhado com roupas velhas no sentido de afugentar os pássaros curiosos. Que fica sempre de braços abertos, receptivo, tal o Cristo Redentor.
- Esqueçam tudo que estão fazendo e o que já fizeram em classe – diz o arauto da inovação. Agora o novo jeito de ensinar é este e somente este.
E toda a história profissional, vivida pelo professor ao longo do tempo, segue bueiro abaixo. “Puxa, só estou fazendo burrada em sala de aula!” – pensa inocentemente consigo mesmo, não relativizando nada.
O eterno substituir na esfera do magistério mais parece um edifício sem base, flutuando ao sabor dos ventos soprados pelos gurus e passível de ruir com um leve toque dos dedos.
Quem, sem consciência, nega a sua experiência, nega a sua condição de sujeito. A menos que o professor, por ser masoquista, já tenha se acostumado ao papel de manequim ou espantalho – um direito que lhe cabe, sem dúvida alguma. Cabe para si, mas talvez não caiba aos seus alunos...
Referência
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Magistério e mediocridade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
A muleta da vovó
Era uma professora recém formada em magistério de 2° grau. Enfrentava, nesse momento, a pesada responsabilidade de alfabetizar uma classe de 34 crianças.
Eu estava sentado lá no fundo da sala. Já tinha perdido a devida autorização para observar a aula. Intuito: sentir mais de perto as práticas pedagógicas na área da alfabetização. Na época, 1977, eu havia sido convidado para organizar uma cartilha, coisa que, felizmente, nunca foi concretizada.
Sobre a mesa do professor um roteiro de aula, que, de onde eu estava, não dava para ver tamanho nem formato. Bom saber que nestes tempos ainda há professores que planejam e roteirizam as suas ações, contrapondo-se à famigerada improvisação.
Diz à classe:
- Copiem as duas palavrinhas que vou escrever na lousa.
E escreve, uma embaixo da outra, lendo em voz alta:
- Mata-borrão, tinteiro.
As crianças, de “esferográfica” em punho, começam a copiar, sempre lembrando que não deveriam se esquecer de cortar o tê.
Ao passeio da professora pelas fileiras, checando as cruzadinhas dos tês, vejo-me com um sentimento de espanto e estranheza frente às duas palavras selecionadas para a lição: mata-borrão, tinteiro. De que diabo de lugar ela tinha retirado tais palavras?
Arrisco, bem baixinho, uma pergunta ao garoto sentado na fileira ao lado:
- Você sabe o que é mata-borrão?
- Sei lá. Acho que é bandido. Assassino.
Meu pensamento corre longe no restante da aula. Volto aos meus tempos de escola primária na década de 50. Caneta de pena, tinteiro e mata-borrão faziam parte do material que eu levava à escola. Molhávamos a pena no tinteiro que ficava num recipiente colocado no topo da carteira, escrevíamos no caderno de caligrafia e passávamos o mata-borrão por cima para sugar o excesso de tinta, não borrar a folha.
Bate o sinal. Eu acordo e corro lá na frente para saciar a minha curiosidade.
- De onde você tirou aquelas duas palavras para os alunos copiarem?
- Quais duas?
- Mata-borrão e tinteiro.
- Ah, sim. Deste meu roteiro aqui – uma preciosidade que herdei da minha avó. Ela também foi professora. A melhor alfabetizadora da região. Sigo direitinho as suas instruções.
E mostrou-me um caderno meio roto, desgastado pelo tempo e pelo uso. Escrito naquelas antigas letras de cartório. Cheirava a cravo-de-defunto. Bisbilhotei a lição do dia, onde encontrei, à página 17, as seguintes instruções: “Na 6a aula, vós deveis fornecer um exercício de cópia com palavras ‘mata-borrão’ e ‘tinteiro’”.
Nas mãos da professora a muleta da vovó. Na cabeça dos alunos mata-borrão = assassino.
Referência
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Magistério e mediocridade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
Eu estava sentado lá no fundo da sala. Já tinha perdido a devida autorização para observar a aula. Intuito: sentir mais de perto as práticas pedagógicas na área da alfabetização. Na época, 1977, eu havia sido convidado para organizar uma cartilha, coisa que, felizmente, nunca foi concretizada.
Sobre a mesa do professor um roteiro de aula, que, de onde eu estava, não dava para ver tamanho nem formato. Bom saber que nestes tempos ainda há professores que planejam e roteirizam as suas ações, contrapondo-se à famigerada improvisação.
Diz à classe:
- Copiem as duas palavrinhas que vou escrever na lousa.
E escreve, uma embaixo da outra, lendo em voz alta:
- Mata-borrão, tinteiro.
As crianças, de “esferográfica” em punho, começam a copiar, sempre lembrando que não deveriam se esquecer de cortar o tê.
Ao passeio da professora pelas fileiras, checando as cruzadinhas dos tês, vejo-me com um sentimento de espanto e estranheza frente às duas palavras selecionadas para a lição: mata-borrão, tinteiro. De que diabo de lugar ela tinha retirado tais palavras?
Arrisco, bem baixinho, uma pergunta ao garoto sentado na fileira ao lado:
- Você sabe o que é mata-borrão?
- Sei lá. Acho que é bandido. Assassino.
Meu pensamento corre longe no restante da aula. Volto aos meus tempos de escola primária na década de 50. Caneta de pena, tinteiro e mata-borrão faziam parte do material que eu levava à escola. Molhávamos a pena no tinteiro que ficava num recipiente colocado no topo da carteira, escrevíamos no caderno de caligrafia e passávamos o mata-borrão por cima para sugar o excesso de tinta, não borrar a folha.
Bate o sinal. Eu acordo e corro lá na frente para saciar a minha curiosidade.
- De onde você tirou aquelas duas palavras para os alunos copiarem?
- Quais duas?
- Mata-borrão e tinteiro.
- Ah, sim. Deste meu roteiro aqui – uma preciosidade que herdei da minha avó. Ela também foi professora. A melhor alfabetizadora da região. Sigo direitinho as suas instruções.
E mostrou-me um caderno meio roto, desgastado pelo tempo e pelo uso. Escrito naquelas antigas letras de cartório. Cheirava a cravo-de-defunto. Bisbilhotei a lição do dia, onde encontrei, à página 17, as seguintes instruções: “Na 6a aula, vós deveis fornecer um exercício de cópia com palavras ‘mata-borrão’ e ‘tinteiro’”.
Nas mãos da professora a muleta da vovó. Na cabeça dos alunos mata-borrão = assassino.
Referência
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Magistério e mediocridade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.