sexta-feira, 25 de abril de 2008

APRENDER

O mundo parece que só não progride mais rapidamente porque há, em muitas criaturas, um invisível desencanto de aprender. De aprender mais continuamente, de aprender sempre.
Em geral, atingido um limite de conhecimento indispensável a certas garantias, o indivíduo instala-se nele, e deixa correr o tempo, sem se preocupar com a renovação constante das coisas. São esses, na verdade, os que se surpreendem quando, certo dia, encontram circunstâncias diversas a atender. Pensaram que tinham formado um mundo inalterável e lhes bastava ir até o fim nessa cômoda rotina.

Mas, em alguns casos, não possuem, sequer, uma limpidez de vistas suficiente para aceitarem a certeza dessa renovação. Obstinam-se em pensar quem têm a verdade consigo. E não somente em pensar, mas em dizer.
Ora, quem é dono de uma verdade atingiu, decerto, um grau de superioridade inexcedível. Quem possui uma verdade não se vai agora modificar em atenção a nada e a ninguém. É todo-poderoso e perfeito.

Assim, os rotineiros pacíficos, viciados na imobilidade das idéias, e os rotineiros pretensiosos, impregnados da convicção de uma sabedoria insuperável, constituem duas fileiras imensas, entre as quais passam a custo, e com uma impressionante coragem, os que se acostumaram a pôr sobre todas as coisas uma claridade sem enganos, e conquistaram o gosto de atingir cada dia um ponto mais alto para o seu destino.
Esse gosto provém da humildade persistente de aprender.


A cada instante há na vida um novo conhecimento a encontrar, uma nova lição despertando, uma situação nova, que se deve resolver.
Entre os inertes e os que não dão por isso ou não podem assumir nenhuma atitude, e os presumidos que, imperturbavelmente, deixam cair o seu orgulho e o seu tédio sobre os mais contraditórios acontecimentos, aqueles que, afinal, constroem alguma coisa no mundo organizam suas atividades para vencer a experiência que se lhes apresenta.
Vencem-na pela inteligência com que a aceitam, pelos poderes com que a compreendem, pela interpretação e o estímulo que a seu respeito são capazes de formular.
Tudo isso é aprender. E aprender é sempre adquirir uma força para outras vitórias na sucessão interminável da vida.
Os adultos aconselham freqüentemente às crianças a vantagem de aprender, vantagem que tão pouco conhecem e que assim mesmo dificilmente seriam capazes de seguir.

Pode ser que um dia cheguem a mudar muito, e dêem tais. conselhos a si mesmos.

Daí por diante, o mundo começará a ficar melhor.

Rio de Janeiro, Diário de Notícias. 1O de dezembro de 1932.

REFERÊNCIA

AZEVEDO, Leodegário Amarante de. Cecília Meireles, Crônicas da Educação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

PARA REFLETIR
1. O título do texto define bem seu tema? Por quê? O que se deveria acrescentar/

2. A autora indica dois tipos de pessoa que resitem ao aprendizado permanente. Quais são?

3. O que, segundo texto, caracteriza as pessoas dispostas/ disponíveis a aprender sempre? Voc concorda com a opinião expressa pela autora? Por quê?

terça-feira, 22 de abril de 2008

O BARQUEIRO


Em um grande rio, de difícil travessia, havia um barqueiro que atravessava as pessoas de um lado para o outro. Em uma das viagens, iam um advogado e uma professora.
Como que gosta de falar muito, o advogado perguntou ao barqueiro:
- Companheiro, você entende de leis?
- Não – respondeu o barqueiro.
E o advogado compadecido, disse:
- É pena, você perdeu metade da vida!
A professora, muito social, entra na conversa:
- Seu barqueiro, você sabe ler e escrever?
- Também não – responde o remador.
- Que pena! Condói-se a mestra – você perdeu a metade da vida!
Nisso chega uma onde bastante forte e vira o barco.
O canoeiro preocupado, pergunta:
- Vocês sabem nadar?
- Não! – respondem eles rapidamente.
- Então é uma pena – concluiu o barqueiro – Vocês perderam toda a vida!

sábado, 5 de abril de 2008

Anacleto


Anacleto era um sujeito.
Ele sabia de quase tudo...
Fazia quase tudo certo.
Ninguém fazia contas tão bem quanto Anacleto.
Ele não se atrapalhava com os números, nunca errava as somas.
Anacleto era o melhor aluno da escola, o corredor mais rápido da rua e também um craque de bola.
Anacleto fazia piruetas na bicicleta, nadava como um peixe... E era radical no skate.
Anacleto era um verdadeiro atleta.
Anacleto anda sempre arrumado, camisa limpinha, sapato engraxado, cabelo penteado, nariz sem meleca.
A Mônica, a Bia e a Teça, ele já tinha namorado.
Anacleto falava bonito.
Conhecia palavras como EXATAMENTE e IMPRESSIONANTE.
Era realmente um sujeito brilhante.
Anacleto sabia o triplo de cinco, sabia o que provocava relâmpagos e de onde vêm os bebês.
Sabia até o que é ORNITORRINCO.
Mas, apesar de tão esperto, era um sujeito quase completo.
Sabe por quê?
Anacleto não sabia de tudo não: ele não sabia fazer bolinha de sabão...

REFERÊNCIA

CISALPINO, Murilo; TEIXEIRA, Zeflavio. Anacleto, um sujeito quase completo.
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